Arquivo para outubro \16\+00:00 2011

Catfish (EUA/2010)

O cinema parece ter, finalmente, descoberto que a internet é parte essencial no modo como uma parcela da humanidade se vê neste início do século XXI. Filmes como (o péssimo) Hackers e (o divertido) Swordfish: A Senha parecem agora peças de museu, de um tempo em que a tecnologia afetava apenas uma minoria. Com o excelente A Rede Social, de David Fincher, e este Catfish, o cinema descobre o óbvio: a internet afeta a vida de pessoas comuns, especialmente o modo como se relacionam. Mas continuamos os mesmos, com bizarrices, tristezas e histórias para contar. Catfish conta uma dessas história.

Nev Schulman é um fotógrafo nova-iorquino que começa um relacionamento amigável com uma menina de oito anos, chamada Abby, dotada de talento excepcional para a pintura – mediados, claro, pelo Facebook. Ela passa a enviar suas versões das fotos de Nev. Os dois amigos cineastas que dividem o apartamento com o fotógrafo decidem transformar o relacionamento de Nev com Abby e, posteriormente, com sua irmã mais velha, Megan, e sua mãe, Angela, em um documentário. No entanto, depois que informações desencontradas colocam em xeque alguns fatos relatados por Angela, os três decidem ir a pequena cidade onde a família da garota mora, no Michigan.

Escrever sobre Catfish sem spoilers é um desafio hercúleo. No entanto, como a maior parte do filme depende exatamente do que não se sabe, tomarei bastante cuidado. Antes de mais nada e ao contrário do que imaginei a princípio, ele não é mockumentary, ou seja, uma peça de ficção narrada na forma de um documentário. Os acontecimentos mostrados aqui ocorreram entre 2007 e 2008. Impressiona o modo como, em boa parte do filme, o mundo é visto pelo filtro dos serviços online. Quando conhecemos o escritório de Nev, por exemplo, é por meio do Google Street View. E de algumas pessoas só veremos o perfil e fotos postados no Facebook. Neste aspecto, Catfish chega a ser um tanto claustrofóbico. E assustador.

Sim, assustador. Não porque a realidade encontrada por Nev envolva alguma das práticas mais hediondas de algum beco obscuro da internet. Mas porque sua jornada (que não deixa de ser, também, uma história de amor) passará por solidão, desespero, mentiras e redenção em uma velocidade vertiginosa – para ser mais exato, nos últimos trinta minutos do filme. E desperta, nos espectadores, a terrível sensação de insegurança sobre, afinal de contas, quem são as pessoas que supostamente conhecemos nas redes sociais. Catfish é um documentário perturbador e simples, um olhar incômodo sobre a intimidade de nosso tempo.

Cotação: ****

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