Água Para Elefantes / Water for Elephants (EUA, 2011)

É óbvio que, se existe a chick lit (literatura voltada ao público feminino), há chick movies. Não são necessariamente as formulaicas comédias românticas com Sandra Bullock, mas também os dramas românticos ao melhor estilo Nicholas Spark – “filmes para chorar”, diriam minhas amigas. Quando uma obra do gênero encontra um diretor e atores dispostos e inspirados, temos algo como o ótimo Diário de uma Paixão. Mas a maioria destes filmes se encontra em um estado intermediário, com algumas qualidades, mas incapazes de superar os limites e fórmulas do gênero. E Água Para Elefantes é um destes filmes.

Jacob (Robert Pattinson) está prestes a se formar em veterinária pela prestigiosa Universidade de Cornell quando recebe a notícia de que os pais morreram em um acidente de carro. Como desgraça pouca é bobagem, descobre que o pai deixou dívidas impagáveis, que custarão a sua casa – afinal, estamos em 1931, em plena Grande Depressão. Jacob pega carona em um trem; na verdade, um circo mantido com mão de ferro pelo imprevisível August (Christoph Waltz), onde acaba recebendo a incumbência de treinar e tratar a elefanta Rosie, adquirida de um circo em decadência. Para completar a relação de ações arriscadas, apaixona-se pela mulher de August, a amazona Marlena (Reese Witherspoon). Baseado no romance de mesmo nome de Sara Gruen.

Dirigido por Francis Lawrence, que veio de duas incursões competentes pelo cinema fantástico (Constatine e Eu Sou a Lenda), tem-se a impressão de que o diretor acredita ser este o seu Titanic. Aliás, a estrutura é parecida: a história é contada pelo Jacob idoso (Hal Holbrook); há o amor entre um jovem e uma mulher comprometida a bordo (desculpe, não resisti) de uma estrutura grandiosa (o circo ou o trem no lugar do transatlântico). E Lawrence entrega exatamente o que se espera deste tipo de filme: ou seja, dirige com competência, mas sem brilho. Na verdade, após o evento que culmina no desfecho do filme, tudo parece feito às pressas. A grande sequência poderia ser maior, mais impactante e até memorável, mas é rápida e resolvida com pouco esforço. Parece, aliás, ser uma tendência do cinema hollywoodiano atual, como se ele tivesse vergonha de se assumir diversão catártica – veja como as lutas finais de Homem de Ferro 1 e 2, por exemplo, são chinfrins se comparados aos embates anteriores.

Os atores estão bem. Pattinson talvez um dia consiga se livrar da sombra purpurinada do vampiro de Crepúsculo, mas para isso terá que frequentar a escola Brad Pitt de projetos menos óbvios. De qualquer forma, ele e Reese Witherspoon atuam bem, mesmo que não haja química entre seus personagens. Era de se esperar que Waltz roubasse a cena, mesmo repetindo alguns cacoetes do terrível Hanz Lanza de Bastardos Inglórios. Mas seu August é mais atormentado e menos racional do que o coronel nazista de Tarantino e o ator traduz esta instabilidade e tendência a acessos de fúria apenas no olhar. É fascinante notar como ele muda o olhar em segundos, sem nenhum outro gesto, passando da amabildade ao ódio, despertando medo até mesmo nos espectadores.

Claro que há algo muito errado com um filme em que o personagem com quem mais nos importamos seja uma elefanta. Rosie é um animal amável e doce, apesar de suas quatro toneladas. Ela também é uma metáfora óbvia da maioria dos membros do circo – duros por fora e fragéis em seus interiores – , mas não há tempo no filme para desenvolvê-los, apesar do esforço de um bom ator como Jim Norton, que interpreta o polonês Camel. Além disso, falta a Água Para Elefantes um desfecho menos redondo, certinho, ou, ao menos, uma conclusão um pouco mais complexa. Seguir a cartilha de um gênero pode gerar um produto correto e apreciável, mas raramente resultará num filme memorável.

Cotação: **

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