VIPs (Brasil, 2010)

Os assim chamdos “filmes baseados em fatos reais” na verdade não passam de uma tentativa de conferir sentido a própria existência do espectador. É como se, passando a mão na cabeça dele, o cinema dissesse: “Viu só? A vida parece um emaranhado de fatos e situações sem sentido algum, mas existe um rumo, existe um sentido”. É uma bobagem, claro, mas ela não impede um filme destes de ser bom. E VIPs é um exemplo disso – mas, assim como Em Busca da Felicidade, com Will Smith, tem que acrescentar uma boa dose de dramaticidade para funcionar. Dramaticidade que talvez não combine com o verdadeiro Marcelo da Rocha.

Marcelo (Wagner Moura) sempre sonhou em ser aviador, como o pai (Norival Rizzo). Abandonando a casa e as apreensões de sua mãe cabelereira (Arieta Correia), vai para o Mato Grosso do Sul, onde consegue ser o que deseja, mas a um preço: trabalhando para o tráfico. De volta ao Rio, decide se passar pelo filho do dono de uma companhia aérea, golpe pelo qual ficará nacionalmente conhecido. Baseado no livro da jornalista Mariana Caltabiano, VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso.

Com a competência técnica da O2 Filmes, VIPs é dirigido pelo estreante Toniko Melo, publicitário que revela um bom olho cinematográfico, criando boas sequências e soluções. O roteiro se esforça em mostrar Marcelo como um sujeito sempre a procura de uma identidade, o que, de certa forma, explica seu camaleonismo (neologismo feio e recém-inventado, obrigado). Mas não explica sua obsessão em “ser alguém” – o que, para boa parte do Brasil dos anos 90 apresentado ali, significa ter a foto em determinadas revistas de celebridades e participar de um grupo pequeno de endinheirados.

Verdade seja dita: Wagner Moura leva o filme nas costas e tem consciência disso. Oscila com habilidade entre uma pureza quase apaixonante de seu personagem (expressa em seu grito de guerra bem adolescente, quase infantil) e suas obsessões. Perceba como, depois de se passar pelo famoso filho do dono da companhia, parece estar a um fio de perder a sanidade, arriscando-se em ações que não poderiam dar certo. Moura consegue aumentar as qualidades da produção com o foco que ela mantém em Marcelo e minimizar seus poucos defeitos (a trilha sonora, que algumas vezes, insiste em ser mais notada do que as falas dos atores).

Cotação: ***

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